Na tarde de quinta-feira (22), o silêncio de uma casa trancada na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, chamou mais atenção do que qualquer grito. Dário Marchese D’Ottavio, um idoso de 75 anos, estava morto havia mais de seis meses. Talvez há mais de um ano. Ninguém sabe ao certo. Mesmo assim, continuava no mesmo endereço com os próprios filhos, como um fantasma mantido por quem deveria respeitar sua memória.
As janelas estavam sempre fechadas. Os vidros escurecidos. Panos cobrindo as portas. Tudo dizia: “não olhem, não perguntem, não se envolvam”. A morte não foi descoberta por acaso. Os vizinhos começaram a estranhar o sumiço.
Os filhos tentaram impedir a entrada dos policiais. Um deles, mais agressivo, discutiu, gritou, ofendeu e agiu de forma violenta. Ambos foram presos por ocultação de cadáver, resistência e lesão corporal. Mas muito antes da polícia, o crime já estava lá. O crime de deixar um corpo apodrecer como se nada tivesse acontecido.
A casa fica no alto de um sobrado. O corpo estava no quarto andar. Escondido não só dos vizinhos, mas talvez da própria realidade. Havia móveis novos. Há suspeitas de que os filhos ainda usavam a aposentadoria do pai. As movimentações bancárias serão investigadas. Mas não é só o dinheiro que importa, a grande pergunta é: como alguém morre, desaparece, apodrece, e ninguém percebe?
Os filhos vão passar por exames para avaliar a sanidade mental. Talvez nunca tenham aceitado a morte do pai ou talvez a doença tenha falado mais alto que o luto. Quem sabe o dinheiro tenha falado mais alto que o amor.
Dário Marchese D’Ottavio tinha nome, tinha história. Nasceu na Itália e era conhecido no bairro. Agora virou uma estatística. Mas por trás desse número, existe um alerta. Não basta perguntar se está tudo bem. É preciso olhar com atenção. Escutar o silêncio. Bater na porta quando tudo estiver calado demais.
Porque, às vezes, o que falta para descobrir uma tragédia… é só coragem de abrir a janela.
Reportagem: Redação
Grupo Planalto de Comunicação
