A indústria do Rio Grande do Sul foi a mais penalizada do Brasil com o tarifaço dos Estados Unidos, que entra em vigor a partir do dia 6 de agosto, afirmou Claudio Bier, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). O estado é o segundo maior exportador para os EUA, e está atrás apenas de São Paulo. “A situação das empresas e das indústrias que exportam aos Estados Unidos é muito difícil. O Rio Grande do Sul foi o estado mais penalizado para as indústrias brasileiras”, declarou. O RS terá 85% dos produtos industrializados taxados, sendo apenas 15% das empresas beneficiadas entre os produtos declarados como exceções na assinatura da ordem executiva anunciada pela Casa Branca, calculou a Fiergs.
Apesar da China ter o maior percentual de compras do país, Bier lembra que os Estados Unidos são o principal comprador dos produtos manufaturados do estado. “Para a indústria do Rio Grande do Sul, os EUA são o nosso principal parceiro”, disse o presidente em coletiva de imprensa após a reunião. Bier ressaltou que os setores prejudicados empregam cerca de 140 mil trabalhadores. “São 140 mil postos de trabalho que podem podem ter seus empregos abalados, e nós já temos desemprego no nosso país”, disse.
Entre os setores mais impactados, estão o de produtos de metal, como armas, máquinas e materiais elétricos, produtos de madeira – que têm 95% de faturamento com exportação, maioria da empresa Taurus – e tabaco. O setor de máquinas agrícolas também depende de peças e componentes eletrônicos que vêm dos Estados Unidos, e o setor automobilístico brasileiros. Entre os produtos excluídos, está a celulose, com 8,2% de exportação e alivia os prejuízos de certa maneira. Porém, segundo Bier, o item já tinha uma certa solução, em que seria exportada do Chile para a China e iria apenas ser trocada a operação.
Na próxima terça-feira, será realizada na Fiergs uma reunião com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo e o secretário adjunto da Fazenda, Itanielson Dantas Silveira Cruz, para negociar créditos de ICMS acumulados e retidos de exportações, que podem ser usados em casos excepcionais com o objetivo de que os exportadores consigam fazer compras dentro do estado.
Foi elaborada uma lista de indicações para âmbito federal, como a instituição de créditos semelhantes ao organizado com o governo gaúcho, mas com juros maiores, para o BNDES; medidas trabalhistas feitas no mesmo sistema de cenário de pandemia e medidas de alívio tributário. Também, possibilidade de reunião com entidades empresariais e trabalhadores. Já há uma reunião marcada com todas as centrais sindicais que serão acordadas com sindicatos patronais. “Se houver desemprego, e certamente vai haver, todos perdem, mas os trabalhadores também estão muito preocupados com isso. Temos que, agora, unir forças para ver o que nós podemos fazer pelas indústrias do Rio Grande do Sul”, diz Bier.
Decisões de lay-off, interrupções ou suspensões temporárias de contrato de trabalho, banco de horas, férias e antecipações estão entre as soluções pensadas para absorver os prejuízos das indústrias, detalhou Guilherme Scozziero, coordenador do Conselho de Relações do Trabalho (Contrab) da Fiergs. “A ideia que nós temos é de propor, junto ao Governo Federal, algumas medidas que já foram utilizadas ou até que possam ser melhoradas no sentido de garantir a preservação de empregos e permitir que as empresas tenham uma capacidade de reduzir as suas despesas, para que elas possam, inclusive, buscar outros mercados enquanto não se resolve a situação”, diz.
Bier também defendeu a importância de o governo federal não retalhar os Estados Unidos para não haver maior prejuízo. “Se retalharmos, certamente essas tarifas podem aumentar. Além disso, o que todos nós sabemos é que os Estados Unidos tem superávit sobre o Brasil. São empresas brasileiras que precisam desses produtos que vêm para os Estados Unidos”, afirma o presidente. “Vai aumentar os nossos produtos aqui dentro e nós temos medo que venha uma inflação”, projeta.
Correio do Povo





