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Brasileira que apresentou coronavírus no organismo por cinco meses é caso mais longo de infecção documentado

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Cientistas da UFRJ acompanharam o quadro da mulher, que teve sintomas leves apenas durante três semanas e não precisou de internação

O trabalho pioneiro de cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acompanhou o caso de uma brasileira que carregou o coronavírus por 152 dias (cerca de cinco meses) sem apresentar sintomas graves. Esse foi o período de mais longa infecção pela doença já registrado em todo o mundo.

De acordo com o jornal O Globo, a mulher, identificada como a “Paciente Número 3”, é uma profissional de saúde do Rio que apresentou, em março, sintomas leves durante três semanas. Por não ter gravidade no caso, ela não precisou ser internada. Depois, os sintomas se foram, mas não o coronavírus.

A mulher continuou com os testes, e a cada sete dias, era colhida uma amostra. Por dois meses, ela foi ao laboratório e continuou positiva. A cientista Luciana Costa, integrante da pesquisa, conta que a paciente começou a ficar angustiada e ficou um tempo sem ir ao laboratório e, ao longo desse período, ela pode ter transmitido o vírus.

Caso evidente da persistência do vírus

Ela voltou a procurar o laboratório por temer estar ainda infectada. Sua suspeita foi comprovada. O vírus estava presente em suas vias aéreas superiores e ativo. 

Ela não foi reinfectada – a possibilidade foi afastada porque a sequência genética do coronavírus era a mesma em todas as amostras. A mulher tampouco desenvolveu anticorpos neutralizantes, não adoeceu de novo. Uma hipótese é que tenha sido protegida diretamente por células do sistema imunológico.

A cientista Luciana destacou que 40% das pessoas testadas continuaram a ser positivas 14 dias após o aparecimento dos sintomas – o estudo com a “Paciente Nº 3” detalhou casos de 50 profissionais de saúde que voltaram para novas testagens. Das 50 pessoas, oito, ou cerca de 15%, tinham vírus infecciosos, com potencial de transmissão, após 14 dias. Algumas, por mais de 40 dias. Os cientistas descobriram isso porque conseguiram isolar os vírus das amostras e viram que ele se replicava normalmente em culturas de células.

Em cerca de 60% das pessoas infectadas em todo o mundo, o coronavírus deixa de se replicar nas vias aéreas superiores após 10 dias. Por isso, não pode ser mais transmitido. No entanto, os cientistas supõem que o vírus possa se esconder em outras partes do corpo, que funcionem como reservatórios.

Os pesquisadores da UFRJ agora pesquisam se as 42 pessoas que não tiveram vírus capazes de se multiplicar desenvolveram os chamados anticorpos neutralizantes, os únicos capazes de destruir o coronavírus. A questão é que esses testes são demorados e artesanais. Não podem ser realizados em grande escala.

*Gaúcha ZH

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