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Cientista brasileiro tem 34 estudos cancelados por suspeita de fraude

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Foto: Pixabay
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Odonto

Um escândalo de fraude científica noticiado na revista Science desta semana envolve um pesquisador brasileiro. O biólogo Guilherme Malafaia Pinto, do Instituto Federal Goiano, é investigado por ter usado o nome de cientistas reputados como “laranjas” para falsificar a revisão independente — feita por outros pesquisadores — de seus próprios estudos.

Segundo a plataforma Retraction Watch, que monitora o anúncio de artigos científicos “retratados” (cancelados e despublicados), Malafaia tem até agora 34 trabalhos colocados nessa condição. Todos os estudos questionados foram originalmente publicados na revista Science of The Total Environment (Stoten).

Segundo o Retraction Watch, esse número coloca o goiano entre os cientistas com mais estudos cancelados no mundo, em 21º lugar numa lista dos 30 campeões de retratações que o site mantém.

Segundo Michael Bertram, um toxicologista sueco que teve sua identidade roubada no processo de cometimento de fraudes, a Stoten entrou em contato com ele para avisá-lo do problema em maio. Em entrevista à Science, Bertram disse que se sentiu “enojado” pela história e decidiu vir a público para revelar a descoberta da fraude como forma de exemplo a ser dado.

Malafaia se defendeu publicando uma carta aberta de 28 páginas em seu site, negando todas as acusações contra ele. Ele argumenta essencialmente que a criação de contas de e-mail com identidade falsa e as trocas de mensagens com editores da revista em questão foram feitas por um hacker que teria invadido sua conta.

O procedimento editorial que teria sido fraudado por Malafaia é a chamada revisão por pares (do inglês peer review). Ela consiste em submeter o estudo de um especialista para revisão por outros especialistas não relacionados a ele. No meio acadêmico, uma aprovação via revisão por pares é pré-condição para publicar um estudo e validar formalmente os seus resultados.

A acusação é que o cientista acusado teria criado e-mails com nomes de outros cientistas para se passar pelos revisores de seus próprios estudos e tê-los então aprovados. Não foi preciso para isso um estratagema muito sofisticado, já que a própria Stoten havia pedido a Malafaia que enviasse o contato com sugestões de possíveis revisores. Em quase todos os estudos problemáticos, o brasileiro tinha coautores, mas ele era o “autor correspondente”, ou seja, aquele encarregado de contato com editores.

As retratações foram todas feitas à revelia do autor questionado em decisão unilateral da Elsevier, a maior editora científica do mundo e proprietária da Stoten.

“Após a publicação, uma investigação conduzida em nome do periódico pela equipe de Integridade em Pesquisa e Ética em Publicações da Elsevier determinou que uma das revisões deste manuscrito era fictícia” afirmou a nota de retratação do último dos estudos cancelados. “Uma revisão foi enviada sob o nome de um cientista conhecido sem seu conhecimento. O nome e os detalhes de contato fictícios do revisor foram enviados pelo Autor Correspondente Guilherme Malafaia durante o processo de submissão do manuscrito. Embora o artigo tenha sido revisado por revisores adicionais escolhidos pelo Editor, essa violação comprometeu o processo editorial. Os Editores-Chefe perderam a confiança na validade/integridade do artigo e suas descobertas e determinaram que ele deveria ser retratado.”

Os estudos em questão são quase todos sobre temas bastante técnicos e específicos. O primeiro deles, publicado em 2019, tinha o título de “Toxicidade comportamental de efluente de curtume em peixe-zebra usado como sistema modelo”. O último de 2024, era “Mutagenicidade, hepatotoxicidade e neurotoxicidade de formulações comerciais de glifosato e fipronil em neonatos de tartarugas da Amazônia”.

As retratações ocorreram todas outubro e novembro, após uma investigação que durou pelo menos desde maio.

Em sua carta de defesa, Malafaia diz que está preocupado com as acusações por causa de ataques que seus familiares e coautores vêm sofrendo desde a divulgação das retratações. Ele afirma poder oferecer provas de que sua conta de e-mail foi hackeada e insinua que a motivação de que perpetrou a fraude era a de atacar a confiabilidade e reputação do sistema de peer review.

“Olhando o histórico de email, percebi que recebi desde 2018 mais de 50 alertas da Microsoft de solicitações de código de uso único, indicando tentativas de acessar minha conta sem minha autorização. Após consultar a empresa formalmente, fui informado de que hackers estavam por trás dessas tentativas”, escreveu Malafaia. “Além disso, o Google reporta que que minhas credenciais, incluindo emails e senhas, foram achados em mais de 23 sites da dark web.”

O Sul

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