As filhas da paciente Madelaine Stahnke, 68 anos, que morreu no último dia 14 de fevereiro, no Hospital Universitário (HU) de Canoas, denunciam descaso, negligência hospitalar e uma sequência de erros médicos. A fisioterapeuta Rossana Stahnke explica que a mãe esperava há 9 anos por uma cirurgia de vesícula e foi internada em 6 de janeiro, inicialmente, no Hospital Nossa Senhora das Graças.
“Ela permaneceu por mais de 12 dias na retaguarda do Gracinha aguardando pela realização de um exame, cujo equipamento só era disponibilizado pelo HU. Entretanto, fomos informados que não seria possível fazê-lo porque a máquina estava estragada. Desde então, ela ficou internada no Hospital Universitário, quando se iniciou uma série de erros médicos, com informações em prontuários desencontradas e muito descaso no atendimento”, conta Rossana.
Ao perceber que a espera pelos procedimentos poderia ser longa, a família resolveu judicializar uma ação. “A justiça então determinou que, se o hospital não tivesse condições de realizar o exame, o disponibilizasse na rede privada.” Além de equipamentos estragados, a família ainda se deparou com a falta de médicos especialistas para fazer determinados procedimentos e ausência de medicação adequada. “Minha mãe começou a ter pressão alta e ficar muito agitada com aquela situação. O quadro dela começou a piorar e nada foi feito para reverter a situação. Eu e minha irmã cobrávamos o tempo todo mais atenção da equipe, mas o descaso era cada vez maior.”
De acordo com a família, ela foi para o bloco cirúrgico pela primeira vez em 5 de fevereiro e depois dia 12. “Não conseguiram retirar o cálculo. Havia inflamação e o caso avançou para uma pancreatite. Ela entrou em choque séptico devido à ausência de cuidados e medicação adequada. Procuramos a Polícia Civil, fizemos um boletim de ocorrência e levamos o caso ao conhecimento do Ministério Público.” Rossana, que também é da área da saúde, diz que a mãe foi vítima de descaso, demora no atendimento e de equipamentos sucateados.
“No prontuário dela estavam prescritas ampolas de insulina. Minha mãe nunca teve diabetes. Foi erro seguido de erro. Isso é uma afronta com a vida das pessoas. Eles poderiam ter evitado o óbito.” Madelaine Stahnke morreu dia 14 de fevereiro, às 17h45.
A advogada da família, Mirna Martins Dias, disse que em termos jurídicos, o hospital descumpriu a determinação judicial ao negligenciar, no prazo de 72 horas, a necessidade da realização do exame que era fundamental para dar sequência a intervenção cirúrgica de que a paciente necessitava. “No período que ela estava internada, continuamos informando o magistrado efetivamente sobre a não realização do exame. Foram expedidos outros despachos solicitando informações do hospital. Entretanto, não informado quais seriam os impeditivos para que o procedimento não fosse efetuado. Ficamos de mãos atadas e neste sentido a situação só se agravou. Muito triste.”
PREFEITURA INFORMOU QUE FOI OFERECIDO O TRATAMENTO NECESSÁRIO
A Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria Municipal da Saúde, informa que a paciente Madelaine Stahnke foi internada no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) no dia 7 de janeiro com um quadro de dor, alteração da função renal, icterícia, dilatação das vias biliares dentro do fígado, cálculo e inflamação.
A paciente, que necessitava da realização de um exame de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), ficou internada no HNSG recebendo todo o tratamento necessário e estabilização do quadro até o dia 24 de janeiro, quando estava em condições de realizar o exame e foi então encaminhada para o Hospital Universitário (HU), que é gerido pela Associação Saúde em Movimento (ASM) e tem profissionais de alta competência para oferecer o melhor atendimento à população.
A paciente foi internada no HU, realizou os exames necessários e tratamento com antibióticos para conter a infecção e foi encaminhada ao bloco cirúrgico em duas oportunidades, nos dias 5 e 12 de fevereiro, quando foi detectado que não estaria em condições de passar por cirurgia para a retirada do cálculo. O HU informa que ela foi atendida por médicos especialistas durante todo o período de internação e recebeu a medicação adequada. A paciente faleceu no dia 14 de fevereiro em consequência de sepse.
Correio do Povo
