O chamado submercado Sul, que contempla os três Estados do Sul do Brasil, registrou, nesta semana, o recorde de carga média diária de energia, ou seja, o máximo de demanda de consumo para um dia, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Na quarta-feira, de acordo com o Informativo Preliminar Diário da Operação (IPDO), a carga verificada foi de 18.416 megawatts médios (MWm), impulsionado pela onda de calor nos últimos dias. Na quinta, houve redução para 17.809 MWm. Os dados ainda devem ser consolidados pelo ONS.
Há um alerta de grande perigo de altas temperaturas, emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em vigor até a noite da próxima segunda-feira, e que contempla quase todo o Rio Grande do Sul, com exceção do Litoral e Serra, além de uma parte pequena do sudoeste de Santa Catarina. Nestas áreas, as temperaturas se aproximaram dos 40ºC por vários dias nesta semana. Já a demanda energética não foi ultrapassada, com o recorde obtido exatamente há um ano, em 7 de fevereiro de 2024, com 21.752 MWm.
“O indicador de carga é referente ao consumo do dia todo, dividido pelo número de horas do dia. Há diferenças entre estes dois parâmetros. Em termos energéticos, é mais fácil para a transmissão conseguir entregar uma energia que não tenha picos. Quando eles ocorrem em um determinado horário, é preciso ter transformadores e estruturas que consigam atender a esta demanda naquele instante de tempo”, diz o professor do curso de Engenharia Elétrica da PUCRS, Alexandre Hugo da Silveira.
“Graças ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e os consequentes intercâmbios de energia entre os cinco subsistemas, a geração consegue suprir a demanda sem risco de apagões, desde que os reservatórios das bacias hidrográficas estejam em níveis satisfatórios”, acrescentou. A exceção desta interligação é de algumas instalações isoladas na região Norte. Com isso, é possível fazer o balanceamento conforme a demanda.
De acordo com a ONS, todos os subsistemas do país, de Norte a Sul, estão com bons níveis de água em seus reservatórios, afastando o risco de desabastecimento e fazendo com que a bandeira tarifária nas contas de luz permaneça verde, sem aumento na tarifa. Em reunião realizada na última quarta-feira, a ONS divulgou que o mês de janeiro terminou com níveis de 64% de energia armazenada nas barragens do país, três pontos percentuais acima do verificado no mesmo período de 2024. No Sul, o índice local foi de 61%.
“Há intercâmbios de energia no país todo, então, por exemplo, em uma época onde há um pico de consumo no Sul, e não conseguimos gerar tanta energia, importamos de outras regiões. O grande problema para um eventual blecaute seria se todo o consumo de energia no país excedesse a capacidade de geração, algo que desestabilizasse o sistema todo, o que não é o caso, já que a demanda está estável”, disse o professor. Por isso, ainda de acordo com ele, não há riso imediato de desabastecimento em grandes proporções.
“Entretanto, com altas temperaturas, situações pontuais de blecautes, ruas e bairros são muito comuns devido a sobrecarga em componentes da rede, como transformadores e cabos”, salientou. No caso do consumo doméstico, o analista de Operações do Programa de Eficiência Energética da CEEE Equatorial, Jonatan Silva, afirma que os maiores vilões da conta de energia dentro de casa são de eletrodomésticos como geladeiras e chuveiros elétricos. “Nos dias mais quentes, eles demandam mais energia para manter a eficiência, e soma-se a isso o uso do ar-condicionado para enfrentar o calor”, comentou ele.